terça-feira, 22 de novembro de 2016

Crítica Black Mirror (sem Spoilers)


Black Mirror é o seriado de ficção cientifica com maior expressão dos últimos anos. Colocando nossa relação com a tecnologia como plano de fundo para retratar relações humanas, nos proporcionando aquela sensação que parece o misto de sensacionalismo, com ótimas tramas entre personagens. Tramas estas que conseguem ser muito bem construídas apesar do tamanho de cada episódio. E o principal, sempre tudo parecendo muito verossímil. E sobre nós mesmos, sobre o nosso tempo.

A tecnologia é posta como algo bem natural na série, não se tenta fazer um “show-off” de futurologia no estilo De volta para o futuro. É muito mais uma questão de se expandir o que se tem por aí. Colocando a interação social como tendência tecnológica dando suporte ao comportamento humano e não o moldando. Ou seja, tenta colocar a tecnologia não como solução das inseguranças humanas e seus comportamentos, mas sim, só como plano de fundo.

Tecnologia

Tecnologia vem do grego τεχνη (técnica, arte, ofício) e λογια (estudo) ou seja, tecnologia é o estudo da técnica ou estudo do ofício, logo, a tecnologia tem como função básica estudar (e resolver) nossas tarefas diárias. Desta maneira tudo que nos cerca é tecnologia, uma enxada para capinar foi em algum momento um avanço tecnológico, uma caneta esferográfica é um avanço tecnológico. E nem por conta disso esses avanços são vistos como maléficos, mesmo se alguma pessoa use uma caneta para cometer um assassinato.

Na série a tecnologia é posta como plano de fundo, de modo algum existe um discurso moralista anti-tecnológico. Algo presente em Clube da Luta, por exemplo, onde o personagem Tayler Durden (Brad Pitt) fala explicitamente que a visão dele de futuro seria de pessoas com apenas um casaco feito de pele de animais e caçando seu próprio alimento, e para chegar a esse objetivo começa destruindo os servidores de cartão de crédito. Nesse sentido, black Mirror (BM) caminha para o lado diametralmente oposto. A tecnologia é inexorável, entretanto, não molda nosso modo de ser, mas sim, nosso modo de agir. Nesse sentido amoralista, BM é perfeito.

Visão de Futuro

A visão de futuro de BM é nosso presente, porém "exagerado", o que dá um tom sensacionalista à série. Quase como se uma situação fosse elevada ao máximo, quase como se sempre as pessoas levassem tudo a últimas consequências. Criação de olhos tecnológicos como google glass só que lentes implantadas, aplicativos que avaliam as pessoas (futuro!? Isso já é presente), carros que pilotam sozinhos (futuro!? Isso já é presente), abelhas drones, e centenas de interfaces tecnológicas que permeiam todo nosso estilo de vida.

Nada é muito estereotipado, não existem carros voadores, não existem comidas que se criam sozinhas, tênis que se amarram sozinhos. Isso dá uma riqueza ao gênero de ficção cientista que parece muitas vezes mais interessado em futurologia excêntrica do que visões mais realistas do hoje.  Mas é essencial ressaltar, BM não é uma série que tenta prever o futuro, de modo algum, na verdade, pouco importa se a tecnologia caminhar para aquele lado ou não. Talvez não caminhe, o Google Glass foi descontinuado, por exemplo. Mais uma vez, o que importa na série é a relação humana.
A tecnologia de BM é bem individualizada. Afinal todas as visualizações e sensações geradas pela tecnologia são individuais na série. Isso, inclusive é uma crítica bastante usual à série, a humanidade ser retratada como cada vez mais egoísta e individualista. Vejamos, a criação do VHS é um exemplo preditivo que a experiência individual seria a tendência deixando de lado a experiência coletiva. As redes sociais hoje formam bolhas de pensamento também, reforçando o que pensamos e excluindo o diferente. Mas uma vez, a série só explora de maneira “exagerada” a relação já existente, a bolha da individualidade.

Afinal, a bolha existe, claro, mas ela é resultado de um processo de objetivação acentuada dos padrões de consumo de informação, alimentados pelo exercício da individualidade que se mostra como essencial para sua realização, ainda que limitada em sua esfera de libertação (vende-se como liberdade, o que não é livre, não se há escolha de nada, no final das contas – mas isso é assunto para outro texto). Essa questão de falsa sensação liberdade é abordada no segundo episódio da primeira temporada.

Conclusão


Black Mirror em questão de geração de debates, de geração daquele sentimento “caramba, preciso falar disso” foi a série que mais causou isso nas pessoas nos últimos tempos. Amoral, filosófico e crítico aos tempos atuais. Recomendo demais. 

2 comentários:

  1. Excelente critica, parabéns. Ainda não terminei a série mas pela critica deve ser tão boa quanto todos falam.

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    1. Valeu Paulo! Que bom que consegui criar interesse na série em você. A ideia era essa mesmo

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